quinta-feira, 11 de junho de 2009

Itália: um grito de revolta!









Itália tornou-se em pleno século XXI num exacto chiqueiro descendente do legado fascista e xenófobo que governou o país durante anos... Na Itália Berlusconiana de hoje vivem-se verdadeiros atentados aos direitos humanos e uma regressão brutal no avanço civilizacional: pessoas honestas apelidadas de criminosas, médicos-espiões, etnocentrismo, humilhação, preconceito, xenofobia, exploração, racismo, hipocrisia (...) enfim, todo um legado neofascista que merece o combate das forças pró sociais!
Artigo de João Nuno Mineiro


Construir alternativas para Europa passa também por defender todos aqueles que diariamente se afundam no mar mediterrâneo, todos os que são rotulados, humilhados e presos em Itália simplesmente por querem dar comer aos seus filhos e aqueles que diariamente os esperam na terra natal (e eles nunca mais apareceram); contra essa máfia Berlusconiana que oprime, humilha e prende milhares de imigrantes tem de haver uma estratégia clara que afunde e enterre de vez o neofascismo e toda a sua hipocrisia.

De facto, um largo currículo xenófobo e pró fascista tem guiado a governação de Silvio Berlusconi...

Não me esqueço de quando há alguns meses professores, alunos e membros da sociedade civil, se juntaram nas ruas de Itália... Eram mais de um milhão disposto a lutar contra a nova reforma educativa de Berlusconi: insurgiam-se contra a tentativa de separação de turmas ente imigrantes e italianos “puros”, contra o despedimento de 80 mil professores, contra a obrigatoriedade de fardas (sim Berlusconi também é um profundo conservador) e a triplicação do valor da propina.

Assim, como é impossível não me lembrar do golpe reaccionário de Berlusconi aos protestos: ordena a entrada de centenas de polícias em todas as escolas onde os alunos e professores protestavam.

Não me esqueço de quando Berlusconi colocou (se não coloca ainda) militares fardados na rua à caça aos imigrantes, pretendendo fazer deles lixo, prendendo e expulsando (apoiado obviamente por directivas vergonhosas da UE); não me esqueço das intenções de Berlusconi para que todos os indivíduos de etnia cigana referissem no BI a sua etnia (isto seria um regresso à catalogação social de Hitler).

E um olhar atento sobre Itália obrigou-me a não esquecer um plano arrogante e irresponsável anti-imigração dominado de “plano de segurança”, que foi parcialmente aprovado no senado Italiano. Neste plano possibilitou-se que médicos violassem o seu código deontológico e passassem a ser também espiões (...), isto é, foi aprovada uma medida que possibilita aos médicos denunciarem imigrantes ilegais.

Mas a nojenta promiscuidade de Berlusconi vai ao ponto de estabelecer uma pena de quatro anos para os imigrantes com ordem de expulsão que permaneçam em território italiano, uma elevação de 80 para 200 euros a taxa para obter autorização de residência e determina um "registo de vagabundos" obrigando todos os sem-abrigo a inscreverem-se num registo do Ministério do Interior.

Mesmo assim, o governo italiano perdeu de forma inesperada no Senado três votações que tornariam ainda mais grave a já em si polémica “Lei de Segurança”. A mais importante é aquela que previa um período de detenção até 18 meses antes de consumada a expulsão do imigrante. Mas a aprovação de uma emenda da oposição, por voto secreto, permitiu deixar tudo como antes, ou seja, o período em causa continua a ser de dois meses. Outra das medidas do governo que não passou foi a restrição ao direito de reagrupamento familiar, que o governo queria limitar aos imigrantes que já estivessem há mais de cinco anos em Itália. Finalmente, a medida que previa a expulsão dos imigrantes que violassem os direitos de autor também foi chumbada.

Mas não poderia terminar a minha breve suma sobre a nojeira em que vai Itália sem falar da nova lei que criminaliza a imigração ilegal...
Isto é, um imigrante vai honestamente para Itália para ganhar uns dinheiros para a família que está na terra cheia de dificuldade, sujeita-se a uma viagem em que corre perigo de morte (...) chega a Itália (muitos não chegam) e não lhe dão o visto - logo, não é uma “pessoa legal”... Sujeita-se a ser explorado e humilhado por patrões xenófobos e arrogantes, ganha algum dinheiro que manda para casa, até que alguém o denuncia como sendo uma “pessoa ilegal” e é acusado em tribunal de ser nada mais nada menos que um criminoso...

Os verdadeiros criminosos são aqueles que sem qualquer tipo de escrúpulos e de consciência social desenharam esta lei... Mais uma vez lá está ele, o rei, o todo-poderoso, o mais arrogante e hipócrita político da Europa: Sílvio Berlusconi!

De forma desonesta previu a criação de milícias populares que colaborem com a polícia, multas até dez mil euros aos imigrantes indocumentados e penas de prisão que podem atingir os dez anos a quem alugar casas a imigrantes não legalizados. Eis algumas das medidas previstas na lei que criminaliza a imigração ilegal e que o parlamento italiano aprovou.

A “asfixiação” da esquerda em Itália “condenou” milhares e milhares de imigrantes à humilhação e à morte - porque na verdade foi ela quem colocou de novo Berlusconi como senhor todo-poderoso de Itália e como senhor da vida dos imigrantes que todos os dias chegam a Itália.

A situação dramática a que os imigrantes em Itália estão sujeitos merece um entendimento político entre várias forças políticas e sociais; precisa-se de uma força viva na Europa que de uma vez por todas sancione o regime brutalmente opressor em que se está a tornar Itália.

É verdade: muitas vidas já se perderam no fundo do Mediterrâneo, muitos seres humanos já foram brutalmente humilhados, presos e explorados em Itália, muitas mulheres e crianças olham dia a dia, noite a noite, para o mar à espera que o barco que o levou regresse (mas ele não regressará)... Mas, apesar do atraso que temos (e que é enorme), ainda não é tarde para lutar para evitar mortes e lágrimas... Nunca é tarde para o combate pelo ser humano.

Uma outra Europa é necessária, precisa e urgente: uma Europa capaz de colocar o dedo na ferida, uma Europa de coragem que se distancie de uma vez por todas da xenofobia e do legado neofascista.

Berlusconi e a sua máfia merecem um combate serio e duro de todos aqueles que se movem por sentimentos humanistas e por todos os defensores dos direitos humanos!


Artigo publicado em:

http://www.acomuna.net/content/view/132/1/

segunda-feira, 8 de junho de 2009