sábado, 2 de janeiro de 2010

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Abreijos!

Até já.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Socialismo e Democracia, um casamento perfeito!


O enigmático país que acolheu a morte do guerrilheiro cumpre hoje o presságio que Guevara havia deixado. A vitória absolutamente democrática de Evo Morales na Bolívia, mais que uma razão para festejo de todos os socialistas é uma razão para reafirmarmos a esperança… A esperança no ressurgimento do socialismo do século XXI, absolutamente livre e absolutamente democrático. É obvio que isto está a incomodar os senhores do Mundo, afinal de contas, na Bolívia está-se a construir um socialismo democrático e anti autoritário, quem diria que seria possível, hein?

Quando na Bolívia em Janeiro sai vencedora a nova constituição Boliviana (e ao mesmo tempo Bolivariana) percebeu-se que a Bolívia caminhava para uma experiência inovadora em vários níveis; Quando Morales ganha nas urnas (com 61%) o que a direita reaccionária tinha tentado derrubar com violência nas ruas, percebe-se que o povo aprovou e quer verdadeiramente a mudança.

Em Janeiro os povos indígenas puderam celebrar, os seus direitos foram reconhecidos ao fim de anos de massacres físicos e culturais. Os indígenas (80% da população da Bolívia) puderam passar a dispor de uma quota obrigatória em todos os níveis de eleição, a ter propriedade exclusiva dos recursos florestais e direitos sobre a terra e os recursos hídricos. A partir de Janeiro foi limitada a terra dos grandes latifundiários (entre 10 mil e 5 mil) – acaba-se de vez com os abusos dos regimes monopolistas da terra controlados pelos grandes latifundiários instituídos numa espécie de capitalismo rural “aceitável” (supostamente visando a socialização dos benefícios) excluído o grosso que trabalha a terra – os povos (esses sim em luta pelo bem comum). A nível económico foi exigido às empresas estrangeiras que reinvistam os seus lucros na Bolívia; Uma questão de justiça simples – “tudo o que ganhas connosco e à nossa custa tens de investir na nossa terra e em nosso benefício.” A Igreja contestou o facto de se colocar todas as religiões em pé de igualdade, retirando ao catolicismo o lugar da "religião oficial do Estado".

De facto, o Sim venceu na Bolívia, e isso foi sem dúvida um grande avanço para a mudança do país. O triunfo do “Movimento ao Socialismo” nestas eleições, foi a confirmação desse projecto social de mudança democrática e revolucionária. Evo Morales ganhou as eleições na Bolívia com 61% dos votos. No seu discurso em La Paz, disse que a vitória nas eleições constituía uma obrigação para acelerar o processo de mudança que se vem construindo desde há quatro anos. O MAS alcançou a maioria nas duas câmaras da Assembleia Legislativa Plurinacional, e dois terços do Senado.

"Louvado seja aquele que correndo por entre os escombros da guerra, da política e das desgraças públicas, preserva sua honra intacta."… Velho Bolivar! A afirmação do socialismo na Bolívia é feita de cara levantada e de honra intacta, sem truques ou malabarismos eleitorais. E isso incomoda! A direita Boliviana faz o seu velho jogo de sombras, de ilusionismo factual, capta apoios dos estados capitalistas e encena factos de violência nas ruas como meio de justificar a derrota. Mas de que lado fica agora Obama? Será que Obama vai promover um novo espírito de diálogo com a América Latina – afinal ele é o Nobel da paz…? Ou vai persistir no erro histórico de desprezo e tentativa de boicote dos governos sul-americanos? …

O triunfo na Bolívia é um triunfo que me faz acreditar que existe uma segunda via para o socialismo… A aplicação do socialismo não se resume meramente a autoritarismo repressivo, anti-democrático e a brutalidade assassina… O socialismo pode ser libertário nos nossos dias, quando implementado de forma democrática, livre e com o apoio da população. O triunfo Bolíviano faz-me acreditar que essa segunda via é possível e que vale a pena lutar por ela. Por um socialismo com valores marxistas: liberdade, justiça, democracia!

Uma salva de palmas a Evo Morales por ter essa ousadia: a de construir uma excelente experiência de socialismo moderno, actual e democrático.

Cá estaremos, Bolívia, para ter ver crescer…

João Nuno Mineiro


Artigo publicado em:

http://www.acomuna.net/content/view/306/1/

the blues soul

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009


PEPETELA, vencedor do prémio Camões, é um dos melhores escritores da actualidade...

Bibliografia:

1973 - As Aventuras de Ngunga
1978 - Muana Puó
1980 - Mayombe
1985 - O Cão e os Caluandas
1985 - Yaka
1989 - Lueji
1992 - Geração da Utopia
1995 - O Desejo de Kianda
1997 - Parábola do Cágado Velho
1997 - A Gloriosa Família
2000 - A Montanha da Água Lilás
2001 - Jaime Bunda, Agente Secreto
2003 - Jaime Bunda e a Morte do Americano
2005 - Predadores
2007 - O Terrorista de Berkeley, Califórnia
2008 - O quase fim do mundo
2008 - Contos de Morte
2009 - O Planalto e a Estepe

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Celebrar o passado, lutar pelo futuro...


A queda do Muro de Berlim do dia 9 de Novembro de 1890 após 28 anos de divisão, além de um acontecimento histórico de relevância política, ideológica, económica e social, é também um acontecimento com marcas concretas na nossa actualidade… Dessa queda resultaram alterações políticas, económicas e sociais que se prolongaram até aos nossos dias.

Em 1961 Berlim foi divido por um muro de betão e de arame farpado. Este muro, conhecido pelo “Muro de Berlim” dividiu a RFA (Republica Federal Alemã) e a RDA (República Democrática Alemã). Mais que uma fronteira física, esta divisão marcou um profundo fosso ideológico entre os adeptos da democracia liberal de inspiração ocidental – RFA –, e os socialistas, adeptos do regime soviético uni partidário gerido de forma autocrática. Essa clivagem ideológica surge no seio da Guerra Fria, em que existia um confronto ideológico e burocrático protagonizado pelos EUA e pela URSS que, obviamente, arrastavam os seus parceiros estratégicos.



O Muro de Berlim, por muitos apelidado de “muro da vergonha” dividiu assim famílias, amigos e cidadãos do mesmo estado. A passagem do muro era interdita… Era um muro opressor onde muitos cidadãos morreram por simplesmente o quererem atravessar, porque na verdade um dos objectivos da construção do muro foi impedir o fluxo de pessoas… Estima-se que naquela época a imigração para o ocidente era de mil pessoas por dia o que era um desastre para a RDA. Assim, depois de anos e anos de protestos, manifestações e tumultos na RDA, no dia 9 de Novembro de 1890 o muro caiu. O governo da RDA foi incapaz de amenizar os acontecimentos tendo-se demitido e abrindo a brecha à muito esperada. As autoridades anunciam a abertura do muro e cumpriu-se a principal exigência dos movimentos sociais da RDA: a reunificação Alemã.



O efeito do desaparecimento do Muro de Berlim tem repercussões fora da própria Alemanha. Depois da sua queda, os acontecimentos precipitam-se no Leste da Europa os regimes comunistas desmoronam-se em efeito dominó – Bulgária, Checoslováquia, Hungria, Polónia, Roménia, Albânia, Jugoslávia e de certo modo a URSS. Com efeito a queda do Muro de Berlim não teve repercussões somente na Alemanha. A queda do muro foi um acontecimento simbólico que marcou o fim da disputa política e ideológica chamada de Guerra Fria. Com a queda do muro e dois anos mais tarde o desmembramento da URSS acabaram as tensões ideológicas comunistas\liberais, e a democracia liberal de inspiração ocidental implementou-se como regime único em quase todas as partes do Mundo.



Particularmente na Europa a queda do Muro teve repercussões abissais… Com a reconversão de muitos estado ao sistema liberal impôs-se à CEE, mais tarde EU (Maastricht 1992), o agendamento de muitas novas adesões… Abriu-se caminho à criação de uma Europa unificada e convergente assente em valores democráticos, criando-se novas esperanças à reconstrução europeia e a um projecto político, económico e social mais forte e coeso.



Contudo, apesar das lições históricas que o muro de Berlim trouxe ao Mundo, continuam a persistir nos nossos dias muros tão vergonhosos e desumanos quanto este... Muros físicos e psicológicos que oprimem milhares de pessoas. Poucos saberão que existe ainda um muro a dividir uma capital europeia, um caso único em todo o mundo. É em Nicósia, a capital do Chipre. Hoje em dia, os cipriotas de ambos os lados do muro continuam à espera de ver mais avanços no processo de reunificação da ilha. O muro mais conhecido da actualidade foi erguido pelos israelitas, ao longo de uma fronteira que mais ninguém reconhece e que foi desenhada de forma a anexar territórios da Cisjordânia, isolando as localidades palestinianas e reforçando os colonatos mais importantes. A construção começou em 1994, sob um coro de críticas e condenação até por parte do Tribunal Internacional de Justiça de Haia, que dois anos mais tarde o declarou ilegal. Mas isso não impediu os governos de Israel de prosseguirem com o plano de 700 quilómetros de muro erguidos a 8 metros de altura. O cerco aos palestinianos completa-se com a barreira que atravessa a faixa de Gaza e o muro de Rafah, na fronteira com o Egipto.



Outros muros foram construídos na sequência de guerras e ocupações, como o que as tropas norte-americanas ergueram em Bagdade em 2007, dividindo as comunidades sunita e xiita da capital iraquiana. No vizinho Irão, o muro que está a ser construído separa ainda mais o país do vizinho Paquistão. Do outro lado, também a Índia constrói uma cerca na maior parte dos 1800 quilómetros que a separa dos paquistaneses. E o regime de Islamabad, cada vez mais cercado, parece concordar com a receita, tendo anunciado em 2005 os seus planos para erguer um muro na fronteira com o Afeganistão. Para além deste projecto e das barreiras que protegem algumas zonas de Cabul, os afegãos contam também com cercas electrificadas e de arame farpado na fronteira. O arame farpado é também o material dominante na fronteira do Uzbequistão com o Quirguistão. E há outras fronteiras que separam em vez de unir, recorrendo a muros, cercas e barreiras várias. Para além dos já citados, vejam-se os casos da Tailândia com a Malásia, das Coreias, da China com Hong-Kong, Macau e Coreia do Norte e da Rússia com vários países.







Celebrar a queda do Muro de Berlim é ao mesmo tempo aprender com ele… Aprender que ninguém tem o direito de dividir um povo, aprender que a segregação não é sinónimo de integração, muito menos de resolução dos problemas, aprender que é preciso mais democracia e não menos democracia, aprender que a divisão física e também psicológicas entre habitantes do mesmo espaço é simplesmente um acto covardia, de autoritarismo e de falta de respeito pela dignidade humana…



… celebramos os 20 anos da queda do Muro de Berlim com entusiasmo e alegria, mas celebramo-los também na certeza de que cada vez mais é preciso sonhar como sonharam os milhares de Alemãs que no 9 de Novembro de 1989 destruíram aquele muro, cada vez mais é preciso sonhar que um dia conseguiremos abater todos os muros opressores por este Mundo fora…

quarta-feira, 18 de novembro de 2009